quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

A HIGIENAÇÃO HUMANA, A CRACOLÂNDIA E A DEMAGOGIA

Instituto Práxis Direitos Humanos
A Cidade de São Paulo na região central sofreu uma enorme deterioração com a falta de investimentos em políticas públicas na região. Até que perceberam o grande filão mercadológico e imobiliário que ali se encontrava.
Mas havia uma grande barreira a ser ultrapassada, os moradores e os comerciantes da região. Então resolveram abandonar de vez qualquer intervenção no centro para acelerar o processo.
Os comerciantes e os moradores abandonaram seus estabelecimentos e suas moradias com a falta de investimentos em limpeza, saúde, educação, esportes, cultura e habitação.
A população que vive na rua passou a ocupar as habitações abandonadas, já que não podiam continuar dormindo e habitando as ruas.
Juntaram-se a essas pessoas os moradores da periferia da Cidade, que historicamente já vivem em situação de carência e pobreza, por uma complexidade de problemas psicossociais relacionados a essa situação de abandono do poder público.
Tal como os trabalhadores no corte de cana no interior do país utilizam álcool, crack e outras drogas, não por recreação, mas para suportarem as suas condições de vida, essas drogas se expandiram no local.
Dados oficiais dão conta que juntamente com a população que habita a chamada cracolândia foram retiradas 70 toneladas de lixo na operação de higienização ali implantada.
Além de viverem com animais domésticos tradicionais, como cães e gatos, compartilham o espaço com ratos, baratas e parasitas.
A urgência nesse momento depois de tanto tempo de abandono seria devido a copa do mundo, olimpíadas, o projeto imobiliário nova luz ou uma série de compromissos e interesses
Não podemos acreditar que essas crianças, adolescentes e jovens, vivendo nessas condições, façam uso de drogas por prazer e recreação.
Focar o problema nos usuários de crack é um erro, que beneficia poucos e não ajuda a entendermos a verdadeira e complexa situação que se encontra toda a Cidade de São Paulo que é a marginalização da população pobre.
O déficit de creches na cidade obriga Pais e Mães a deixarem seus filhos aos cuidados de irmãos maiores para saírem ao trabalho.
A escola pública de massa, com salas de aulas lotadas e professores mal remunerados e sem condições de trabalho, que muitas vezes não conseguem saber o nome de seus alunos, imagine elaborar um projeto pedagógico personalizado respeitando as individualidades e diferenças.
A internação compulsória como política pública de tratamento às drogas em instituições fechadas, que segundo a Organização Mundial de Saúde tem a resolutividade de apenas 2%, faz com que percamos a oportunidade de implantação de um modelo de atenção comunitária com uma rede de serviços composto por consultórios-de-rua, internação de curta permanência em hospitais gerais públicos, temos cerca de 30 deles  na Cidade sem nenhum leito de desintoxicação para crianças e adolescentes, centros de atenção psicossociais e centros de convivência.
Isso sem aprofundarmos nos problemas relacionados com a habitação, cultura, lazer e esportes, áreas de igual importância.
Vamos participar das discussões a respeito do tema e focar no verdadeiro centro da questão e cobrar políticas públicas, não vamos nos enganar e deixar que se livrem de sua responsabilidade, culpabilizando e criminalizando a pobreza marginalizada.
O crack é um sintoma grave dessa complexidade de problemas que não serão resolvidos com demagogia.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE APROVA ACUPUNTURA MULTIPROFISSIONAL

Texto do CREFITO-2

Prática multiprofissional da Acupuntura em pauta

Texto recebeu aval dos conselheiros e está em tramitação para ser homologado pelo presidente do CNS e Ministro de Estado da Saúde, Alexandre Padilha.

Foto: Dr. Ricardo Maki
Minuta do texto da Resolução CNS nº 463 foi preparada pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Coffito).
Após duros golpes, que causaram muita confusão e dividiram a opinião pública, o ano de 2012 terminou com uma boa notícia para oito profissões de nível superior da área da Saúde que atuam na Acupuntura. E, principalmente, para toda a população brasileira que tem o direito de receber atendimento multiprofissional, de qualidade e prestado por profissionais capacitados e bem formados.

O Conselho Nacional de Saúde (CNS), em sua reunião do dia 12 de dezembro de 2012, aprovou o texto da Resolução 463, que normatiza junto à Agência Nacional de Saúde, órgão responsável pela relação entre operadoras de planos de saúde, prestadores de serviço e usuários, a inclusão da oferta da Acupuntura como prática multiprofissional no Brasil.

A minuta do texto foi elaborada pelo Plenário do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, que possui representação no CNS. A Resolução inclui fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, cirurgiões dentistas, enfermeiros, farmacêuticos, psicólogos e nutricionistas, devidamente registrados pelos seus respectivos Conselhos Federais, no quadro de profissionais credenciados pelas empresas de planos e seguros para prestação de serviços como acupunturistas.

Além disso, o texto orienta que a implementação de políticas de saúde que contemplem práticas integrativas e complementares em saúde, especialmente em Acupuntura, preconizem a contratação por meio de concursos públicos de forma multiprofissional.

As profissões da área da saúde aguardam agora a homologação da Resolução 463/2012 pelo presidente do CNS e ministro de Estado da Saúde, Alexandre Padilha. De acordo com matéria publicada pelo Coffito, este ato deve acontecer em breve.

Com a homologação e entrada em vigor da Resolução, a saúde brasileira dá uma resposta àqueles que buscaram monopolizar áreas de conhecimento visando primordialmente o ganho material, acima dos interesses da população.


União pelas profissões e pela população
A decisão do CNS traz benefícios aos profissionais, mas a maior vitória é da população brasileira. Foi um importante passo para o fortalecimento da área da Saúde, alcançado a partir dos esforços de várias entidades reunidas: Sistema Coffito/Crefitos; Conselho Federal de Fonoaudiologia (CFFa); entidades que compõem o Fórum das Entidades Nacionais dos Trabalhadores da Área da Saúde (Fentas); e a maioria das entidades que compõem a Comissão Intersetorial das Práticas Integrativas e Complementares (CIPIC-SUS).


Frente a frenteA aprovação do texto confronta, mais uma vez, uma equivocada decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, de 27 de março de 2012, que considerou a Acupuntura como atividade privativa do médico.

Na ocasião, houve uma torrente de informações errôneas, incompletas ou desencontradas em diversos veículos de comunicação, que só fizeram aumentar a preocupação de profissionais de outras áreas habilitados à prática.

Tal repercussão pública também gerou grande temor na população, induzida a acreditar que estaria sendo atendida por um profissional desqualificado caso se submetesse ao tratamento com acupunturista de outras área da Saúde que não fosse médico, o que se trata de uma grande inverdade.

O Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Crefito-2), sempre esteve empenhado em conscientizar profissionais e população, enviou representantes para participar de programas de rádio e defender seu posicionamento contra a decisão do TRF-1. Além disto, publicou comunicados para alertar aos profissionais fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais de que a prática da Acupuntura por eles é um direito adquirido pelo órgão em instância superior da Justiça e alertar a população.

 Link  http://www.crefito2.gov.br/noticias/noticias/pratica-multiprofissional-da-acupuntura-em-pauta-497.html

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

OCUPAÇÃO INVOLUNTÁRIA DO CRATOD; FUNCIONÁRIOS DENUNCIAM OCUPAÇÃO EM NOME DA INTERNAÇÃO INVOLUNTÁRIA


Carta aberta dos Funcionários do Cratod a população:

Ao longo da história da humanidade é comum que povos em nome do progresso e desenvolvimento dizimem civilizações e culturas. 
Guardadas as devidas proporções, estamos vivendo uma situação parecida no Cratod. Em nome da “internação compulsória” o Cratod foi ocupado dia 21 de janeiro pela secretaria da saúde e teve sua diretora destituída. Essa ocupação ocorreu como se o prédio estivesse vazio, como se não houvesse nenhum profissional já trabalhando, e não existisse um trabalho de anos, como se já não houvesse uma estrutura montada e em bom funcionamento. Seus profissionais foram completamente desconsiderados, seu conhecimento e trabalho ignorados. A nova equipe entra e sai das salas sem se identificar, sem se apresentar como se estivesse na sua casa e não devesse nenhuma explicação. O trabalho existente está sendo desmanchado. 
O Centro de Referência com todos os ambulatórios, atendimentos, oficinas de regime intensivo e de semi-intensivo, parcerias com Universidades e capacitações profissionais oferecidas para o Brasil todo foram desconsideradas, como se não importasse realmente. As oficinas existentes foram “suspensas” para podermos dar conta da demanda de internação apenas, sem considerar o tratamento das pessoas dependentes. Nesta hora servimos como mão de obra barata para “tapar buraco”, o qual aliás, sem a avaliação inicial é enorme. Voltou a se fumar nas dependências do prédio, antes pioneiro na lei de proteção ao não fumante, no ambiente livre de tabaco e atendimento ao tabagismo.  
Em nenhum momento foi considerada a parceria, ou alguém nos perguntou o que achávamos, o que queríamos, o que pensávamos. A equipe foi considerada, sem julgamento, de incompetente. Infelizmente o funcionário público carrega esse rótulo de incompetente, encostado e vagabundo, mesmo se trabalhos brilhantes são realizados apesar da máquina pública. No serviço público tudo é feito para não funcionar, apesar disso muita gente se esforça e a coisa funciona! 
O tratamento ambulatorial visando à reinserção social está sendo gravemente afetado. O prédio reformado e bonito (mérito do Cratod) voltou a ser um centro de internação como há 30 anos, com superlotação. Que retrocesso! 
Não vamos nem entrar no mérito da questão se a internação compulsiva … ops “compulsória” é necessária neste momento. Estamos questionando como as coisas estão sendo feitas. Uma equipe que não consegue nem respeitar seus colegas de profissão, conseguirá respeitar a população? Difícil… 
O trabalho com dependência química começou aqui há 23 anos quando foi criada uma equipe para trabalhar com os pacientes alcoolistas. Uma médica, muito sensata, formou uma equipe para atender ambulatoriamente os pacientes alcoolistas uma vez que o número de internações dessa população estava crescendo. Iniciou-se o trabalho que aos poucos foi construído baseado no prática e no estudo. A equipe foi crescendo e se aperfeiçoando, o conhecimento se aprimorando. Essa pequena semente vingou, brotou, se transformou numa grande árvore frondosa que dá sombra e frutos. Infelizmente não querem ver isso.
Como centro de referência, o CRATOD atua no tratamento, na formação de recursos humanos, na prevenção. 
Criado em 2002, por decreto do então e atual governador Geraldo Alckmin, tem se constituído como um polo formador de recursos humanos especializados para todo o Estado de São Paulo, desenvolvendo e testando tecnologias de atendimento aos dependentes de substâncias psicoativas.  
Em relação ao tratamento, semanalmente, passavam (até o início de janeiro de 2013) aproximadamente 450 pacientes no CRATOD nos regimes intensivo, semi-intensivo e não intensivo. Alguns pacientes permaneciam meio período (manhã ou tarde), outros passavam o dia todo e alguns até pernoitavam quando em situação de risco. Temos 10 leitos de observação e pernoite. Atualmente esses leitos são ocupados apenas com pessoas “esperando vagas de internação”. O índice de internação no último ano foi de 4 % dos pacientes e todas foram internações voluntárias. A população atendida é 80% de moradores de rua, e o tratamento viso a recuperação, abstinência e reinserção social.
Ao longo desses anos, o CRATOD teve grande visibilidade na mídia levando o nome do governo e da Secretaria da Saúde a ponto de ser premiado com troféu por ser uma das instituições do governo que mais visibilidade positiva.
O CRATOD foi extremamente importante para a discussão e posterior lei que regula o fumo nos ambientes fechados de uso coletivo. Capacitamos a rede estadual para o atendimento aos tabagistas, além de sermos a Coordenação Estadual para o Controle do tabagismo junto ao INCA.
No papel de centro de referência, reconhecido até fora do país pelas inúmeras visitas de profissionais da área da dependência, também no estado, fomos , por vezes solicitados como supervisores e orientadores de serviços municipais.
No papel de prevenção realizamos, semanalmente, ações de prevenção nas praças públicas, estações de trens e metrôs e outros espaços de grande circulação de pessoas levando informação, distribuição de folhetos, preservativos e aplicando instrumentos validados para o rastreamento de uso de substâncias psicoativas (ASSIST, Fagerstrom). Após a detecção do uso utilizamos a técnica de Intervenção breve e fazemos os devidos encaminhamentos para aqueles que não chegaram, ainda, aos serviços de saúde e que apresenta uso abusivo ou dependência. 
Chegou a ora da derrubada. Sem escrúpulos, sem respeito, sem ética, sem consideração . Em nome de saber o que é melhor. Saiam de perto. Madeira…
Equipe do Centro de Referência de Álcool Tabaco e Outras Drogas. CRATOD.
Janeiro de 2013.